Registros de hospedaria

No dia 13 de março de 2021, fiz com o colega genealogista Daniel Taddone uma live sobre a chegada dos imigrantes no Brasil na época Grande Imigração (pode ser conferida aqui) na qual foi tratado o assunto dos registros de hospedaria. Mas o que eram?

As hospedarias de imigrantes eram, como o nome sugere, estruturas destinadas à recepcionar os imigrantes vindos ao Brasil. A maioria das hospedarias foram formadas na segunda metade do século XIX, e nelas pode ser feita pesquisa sobre imigrantes. Pesquisando nelas, conseguimos descobrir ocasionalmente data de imigração, nome e idade dos imigrantes, relação familiar entre os imigrantes, cidade de nascimento e moradia, nome do navio e outros dados interessantes. Neste post, listarei as principais hospedarias do Brasil e seu meio de acesso.

Espírito Santo

No estado do Espírito Santo haviam duas hospedarias principais: a de Alfredo Chaves e de Pedra d’Água. A hospedaria de Alfredo Chaves não deixou registros, mas a de Pedra d’Água sim. Também chamada de hospedaria dos imigrantes de Vitória, a hospedaria da Pedra d’Água está localizada na Ilha da Fumaça, em Vitória. Passou a existir em 1889, sendo em 1924 transformada na atual penitenciária de Vila Velha. Seus registros estão indexados no site do APEES (Arquivo Público do Estado do Espírito Santo), no qual é possível fazer uma pesquisa por sobrenome, não apenas em registros da hospedaria, mas vários registros de naturezas distintas, como listas de chegada nos portos do Espírito Santo. A grande maioria dos imigrantes que passaram por esta hospedaria eram italianos, com grande número de espanhóis e portugueses.

Rio de Janeiro

Hospedaria da ACC

O Rio de Janeiro foi palco de três principais hospedarias: da Associação Central de Colonização, do Pinheiro e da Ilha das Flores. A primeira que trataremos é da Associação Central de Colonização (ACC).

Ela teve atividades de 1861 até 1864, quando foi incorporada ao Ministério da Agricultura. Os imigrantes ali são dos seguintes países: Grão Ducado de Baden, Reino da Bavária, Bélgica, França, Reino de Hanover, Grão-ducado do Hesse, Holanda, Ducado de Holstein, Hungria, Luxemburgo, Ducado de Nassau, Grão-Ducado de Oldenburg, Reino da Prússia, Reino da Saxônia, Ducado de Schleswig, Suíça. Importante notar que vários desses países não existem mais e fazem parte do que hoje é Alemanha, então esses imigrantes podem ser ditos alemães em outros registros, devido à confusão entre nacionalidade, etnia e naturalidade. Boa parte de imigração ali é de alemães que em outras eras iriam para os EUA, mas devido à Guerra Civil Americana, decidiram vir ao Brasil. Quase todos imigrantes eram destinados à Santa Catarina ou ao Espírito Santo. No arquivo a seguir, estão os livros da hospedaria da ACC, que estão sob guarda do Arquivo Nacional, sendo possível pedir certidão de desembarque a partir destes pelo sistema de atendimento à distância do Arquivo Nacional.

Destaco a volta ao Brasil de Leo de Coninck (04/03/1797, Sint-Baafs-Vijve-12/11/1869, Gaspar-SC), meu pentavô, que veio ao Brasil em 1846 mas voltou à Europa em 1860 para buscar a família de Karel Lodewijk Maes, tio de seu genro Leander Maes.

Passagem dos Maes e Leo de Coninck na hospedaria

Hospedaria da Ilha das Flores

A segunda hospedaria do Rio de Janeiro é da Ilha das Flores. Localizada na Ilha das Flores, atualmente município de São Gonçalo, foi por muito tempo a primeira parada dos imigrantes destinados do Rio de Janeiro e ao Sul do Brasil, funcionando desde 1877 e havendo registros até 1932. As listas da hospedaria estão sob guarda do Arquivo Nacional e podem ser conferidas em dois sítios diferentes: no FamilySearch e no SIAN. Para consultas pelo FamilySearch, podemos, depois de logar no site, entrar aqui para pesquisar os livros.

Livros da hospedaria da Ilha das Flores

Os livros estão marcados como “Registros de imigrantes” e clicando na câmera, podemos ver os livros.

Primeiros registros da hospedaria

Nos registros podemos ver a data de chegada e saída da hospedaria, vapor de vinda, porto de saída do país de origem, nacionalidade, profissão, religião e local de destino no Brasil. No SIAN, podemos conferir os mesmos livros, mas apenas desde o livro de número 9, mas indo até o ano de 1932.

Para procurar no SIAN, o primeiro passo é entrar no site, e logar. Caso não tenha um cadastro, criar um. Ao entrar na sua conta, passar o cursor sobre Favoritos, então sobre Hospedaria de Imigrantes e então clicar em Hospedaria da Ilha das Flores.

Agora devemos selecionar o livro que queremos ver e clicar em “Arquivo Digital”:

Em Produção Inicial, há a data de início dos registros desse livro, e em produção final a data final. Na próxima tela, devemos passar o cursos sobre “Arquivo Digital”:

Há nove arquivos, o que significa que o arquivo do livro de registros digitalizado é dividido em 9 partes. Ao clicarmos na primeira parte, seu computador abrirá um arquivo em forma PDF com a primeira das 9 partes do livros de registros da hospedaria:

Novo livro de registros da hospedaria da Ilha das Flores

Não há indexação destes livros, portanto a pesquisa é “manual”, folha por folha. Para facilitar, adiciono um arquivo que ajuda nas pesquisas de 1900-1908, cuja autoria desconheço.

Hospedaria do Pinheiro

A hospedaria do Pinheiro é localizada no atual município de Pinheiral-RJ, a 117 km da cidade do Rio de Janeiro e próximo à cidade de Volta Redonda. O meio de pesquisa é muito semelhante à pesquisa da Ilha das Flores no SIAN: após logar, deve-se passar o cursor sobre Favoritos, Hospedaria de Imigrantes e selecionar Hospedaria dos Imigrantes em Pinheiro.

São apenas três livros para conferir, que podem ser conferidos clicando em “Arquivo Digital”, destacado na imagem:

Tal qual na Ilha das Flores, as listas são divididas em várias partes por causa do seu tamanho. Ao selecionar, por exemplo, a primeira parte do primeiro arquivo, conseguimos visualizar o livro digitalizado, contendo data de chegada e saída da hospedaria, vapor de vinda, porto de saída do país de origem, nacionalidade, profissão, religião e local de destino no Brasil.

Esses registros também não são indexados, sendo necessário fazer pesquisar manual.

São Paulo

Na cidade de São Paulo, havia desde aproximadamente 1887 a Hospedaria dos Imigrantes do Brás (que fica no bairro da Mooca, não no Brás), pela qual o número de imigrantes que passou está na casa do milhão. A grande maioria dos imigrantes vindos ao Brasil após 1887 e instalados primeiramente no estado de São Paulo passou por esta hospedaria. E é, felizmente, uma das hospedaria de mais fácil acesso. As listas foram indexados no site do Museu da Imigração e podem ser conferidas aqui. O meio de usar é bem simples, basta digitar o sobrenome que busca e clicar em Pesquisar, que os resultados do sobrenome aparecerão.

Ao clicar em “Ver mais”, aparece uma espécie de ficha com a transcrição dos dados que constam na lista da hospedaria.

No entanto, é preciso tomar cuidado com erros de indexação. Por exemplo, a cidade de residência consta como Tomak, na Rússia. Mas ao clicarmos em “Documento Digitalizado” podemos conferir nós mesmos o que está escrito no livro para ver se não houve erro.

Ao conferirmos com calma, percebemos que na realidade não é Tomak, mas Tomsk – cidade siberiana. Essa família é de meus tetravós Francisks Jubele e Rozalija Konoszonoks, ambos de Latgale – região do leste da Letônia, no Leste Europeu. Na época, Latgale era parte do Império Russo. Como a região da Sibéria, por motivos climáticos e de muito isolamento, sempre foi muito vazia, a família Jubele – como centenas de outras famílias – recebeu terras na região da Sibéria afim de colonizar o local. Mais especificamente na cidade de Mariinsky (Мариинск), que na época ficava no oblast de Tomsk mas hoje é oblast de Kemerovo – por isso Tomsk foi usado como ponto de referência. Há vários erros de indexação – de sobrenomes, prenomes, nomes de cidades, etc. Por isso também é prudente conferir no FamilySearch os livros digitalizados. Há registros desde 1882 – quando havia outra estrutura de acolhimento de imigrante em São Paulo, antes da hospedaria do Brás ser construída. Todos os registros estão sob guarda ao Arquivo Público do Estado de São Paulo e as certidões podem ser pedidas neste link.

Paraná

No estado do Paraná, havia hospedarias tanto em Curitiba como em Paranaguá. Os registros foram todos indexados aqui. No site, é possível procurar por sobrenome digitando as letras iniciais do sobrenome.

Ao pesquisar, é informado o ano o evento, nacionalidade, livro (códice) e número de ordem. Os registros das diversas hospedarias do Paraná estão nos livros (códices) 419, 425, 426, 428, 444, 445, 454, 455, 820 e 821. Ao localizar um registro, é possível solicitar ao Arquivo Público do Paraná (que guarda os registros) que lhe envie uma certidão ou cheque o conteúdo do registro, o e-mail para contato é consultasai@deap.pr.gov.br.

Rio Grande do Sul

Houve três hospedarias que deixaram registros no Rio Grande do Sul: na cidade de Rio Grande, de Charqueadas e em Porto Alegre, no bairro do Cristal. Todos os registros estão sob guarda do AHRS e foram parcialmente digitalizados no FamilySearch. Para Charquedas, o primeiro livro está nesse link, da imagem 3 à imagem 36. Da imagem 37 em diante, começa o livro da hospedaria do Cristal. Já neste link continua o livro da hospedaria do Cristal. Já para o segundo livro da mesma, o link de acesso é este, os registros indo de 1889 a 1891.

Para a hospedaria de imigrantes de Rio Grande, há o códice C201, cujos registros vão de 1892 a 1896 e podem ser acessado por aqui. Começam na imagem de número 1240 e vão até a imagem 1378.

Minas Gerais

No estado de Minas Gerais, havia uma hospedaria na cidade de Juíz de Fora, chamado Horta Barbosa. Passou a existir em 1888. Os registros foram indexados e podem ser acessados aqui. A pesquisa é bem simples: basta digitar o sobrenome e clicar em “Executar Pesquisa”, então clicar no sobrenome para ver os resultados.

Ao pesquisar pelo sobrenome Zoccoli, clicamos na única entrada encontrada e em seguida em “Visualizar imagens” para ver o livro digitalizado, ainda que ao clicar no sobrenome a indexação apareça.

Os registros da hospedaria Horta Barbosa são especialmente úteis pois, dependendo da época, costumam dizer a cidade de residência da pessoa no país de origem.

4 comentários em “Registros de hospedaria

  1. Parabéns! Ótimo conteúdo e explicação! Gostaria de saber se São Pedro de Alcantara teve alguma hospedaria ou referência para pesquisa? Meu tetravo Frederico Guilherme Schramm e meu trisavo Franz Bernard Schramm chegaram em 1848, na primeira leva do Dr Blumenau. Primeiro foi para São Pedro de Alcantara e depois para Gaspar.

    Curtir

Deixe um comentário

Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora